26 Maio, 2018
Sónia Lopes:  1 Enfermeira, 1 Delegada
Sónia Lopes é enfermeira no Hospital de Faro e dirigente na delegação do SEP de Faro.

 

Ainda sem saber que se cruzaria com a profissão de Enfermagem, cedo manifestou interesse em “cuidar do outro”. Tornar-se Enfermeira foi a resposta natural a esta vontade.

“Não consigo precisar o momento exato, mas cedo percebi que gostava de cuidar, cuidar do outro. E acho que esse gosto e interesse já me facilitou a escolha da profissão. Não tenho ninguém na família, na área, e por isso não foi o contacto com nenhum exemplo próximo, mas arrisquei. E ainda bem que o fiz. Porque gosto muito do que faço. Ainda sou enfermeira, ainda presto cuidados, ainda gosto do que faço e ainda gosto de ser enfermeira. O que, nos dias de hoje, neste contexto profissional, poderia ser difícil. Desde pequena, eu gostava de cuidar e sempre achei que “cuidar” seria aquilo que via acontecer num hospital, seria tratar de doentes e de quem precisava de cuidados de saúde.”

Quando confirmou o interesse e a dedicação à Enfermagem?

SÓNIA LOPES (SL): “O curso de Enfermagem é um curso muito prático. Eu faltava um bocadinho às aulas teóricas porque, na época, praticava uma modalidade de competição e tinha que me ausentar algumas vezes, mas percebia que no estágio tinha muito boas notas porque gostava realmente de cuidar e de “pôr as mãos na massa”. Foi aí que confirmei que era mesmo por aqui e que era este o caminho certo.

 

SEP | 1 enfermeiro 1 delegado | Sónia Lopes

 

Se, por acaso, tivesse achado que a parte prática não era “a minha praia”, não teria continuado em Enfermagem. Por ter uma parte prática muito exaustiva e desde cedo em contexto hospitalar, este lado prático do curso ajuda a confirmar o interesse e a vocação para a profissão. Porque desde muito cedo percebemos o que realmente vamos fazer e como vai ser o nosso dia a dia.

Quando somos novos floreamos sempre um bocadinho a profissão, mas com a idade e a experiência, a opinião altera-se, mas o percurso enriquece-nos muito.

Ao longo da sua formação e carreira, identifica algum episódio ou figura que a tenham marcado?

SL: “Tenho muitos. Bons, maus… De bom, tenho alguns dos colegas que ainda trabalham comigo. Trabalho há 11 anos e sempre no mesmo serviço em que comecei e a longo destes 11 anos  tenho a felicidade de trabalhar com pessoas que já lá estavam, que me foram acompanhando e que foram os meus mentores, os meus modelos… e que, como profissionais, foram muito importantes no meu percurso. Apesar da parte prática do curso, estamos um bocadinho longe do que é tomar a responsabilidade de ser enfermeiro. E isso só se descobre e aprende quando trabalhamos efetivamente num serviço.

No dia-a-dia, tenho muita gente que me marca. Há pacientes que nos ensinam muito. Essa é uma recompensa constante.

É engraçado estarmos a falar nisto porque estou agora a orientar um estágio e recordei-me recentemente de um enfermeiro que me orientou em estágio no meu segundo ano. Foi alguém que marcou o meu percurso neste sentido: era um orientador pouco exigente que, enquanto estagiários, nos humilhava muito. A sua forma de nos “educar” era com base na humilhação e eu nunca me esqueci dele. Tornou-se a referência daquilo que eu não queria fazer no futuro. Daquilo que não deve ser feito. Portanto, acredito que todas as experiências, boas e más, são úteis na nossa aprendizagem e podem ser tomadas como exemplos e tomadas de posição.”

SEP | 1 enfermeiro 1 delegado | Sónia Lopes

 

Há mesmo muitas histórias para contar…

SL: “Sim, há mesmo muitas histórias. Todos os dias.

Em tempos, tivemos um blog onde contávamos os casos mais caricatos com que nos cruzávamos. Deixámos de ter tempo de o alimentar, mas reunia alguns bons episódios que nos fazem rir quando os recordamos.”

Contar histórias é, também, o objetivo desta campanha.

SL: “Esta campanha parece-me muito importante por um motivo: muitas vezes, os nossos colegas enfermeiros olham para nós, delegados ou dirigentes, como se nem sequer fôssemos enfermeiros ou como se nem sequer soubéssemos do que estão a falar e de quais são as suas preocupações. Quase temos de relembrar: “eu também sou enfermeiro, eu também presto cuidados, eu também faço turnos”.

É muito importante recordarmos isto, esta proximidade e ligação entre dirigentes do Sindicato e os profissionais da Enfermagem.”

 

SEP | 1 enfermeiro 1 delegado | Sónia Lopes

 

Recorda-se qual foi o primeiro momento em que ouviu falar no SEP?

SL: “Perfeitamente. Foi ainda enquanto estudava. Estava no 4º ano, no fim do curso, e o SEP veio à faculdade explicar o seu trabalho e a sua função e sindicalizei-me mais ou menos logo nessa altura.

Se me perguntasse aquilo que eu retiro de mais proveitoso do Sindicato, além das relações pessoais que vamos tendo, é o conhecimento. Essencialmente, é o facto de poder ir a reuniões onde a informação nos é passada de uma maneira diferente e acessível e o onde essa partilha de informação faz com que todas as coisas ganhem outra estrutura.”

Porque se tornou dirigente desta estrutura?

SL: “Quando me convidaram para integrar o SEP e tornar-me dirigente na delegação de Faro foi realmente fácil aceitar o desafio. Apesar de não ter uma noção clara de todo o trabalho que ia ter, porque é realmente trabalhoso em muitos momentos, como estava sempre do lado de cá a criticar e a dizer: “Vocês não fizeram assim porquê? Não decidiram assim porquê?” – quando o convite me foi feito, pensei: “Porque não? Vou experimentar e perceber como as coisas funcionam”. E tem sido muito interessante, a percepção passa a ser completamente diferente.

Se tivesse de desafiar a alguém a trabalhar no SEP, o que diria?

SL: “Bom, esse é um trabalho realmente difícil e já tentámos aqui várias estratégias.

Diria que é uma mais-valia. E que a partir do momento em que somos dirigentes de um movimento sindical é como se ganhássemos uma responsabilidade para a vida. Olhamos para a profissão de outra maneira. Vemos “para além de”. Não lemos só a informação, trabalhamos sobre ela. E tem de se vestir a camisola e acreditar muito. É muito importante termos um Sindicato e pessoas que nos possam representar e seria isso que tentaria transmitir: é mesmo importante existir uma estrutura. Com dirigentes. Com sócios. Mais do que isso é ter uma noção de coletivo e de perspetiva de futuro. Construir uma casa forte, pela base e não pelo telhado. Mesmo que estejamos a discutir e a trabalhar para ter condições de futuro das quais já não vamos usufruir, mantém-se a importância dos objetivos. Porque, se no futuro, já não for enfermeira, vou ser utente e quero ver enfermeiros felizes, bem formados e a trabalhar com acesso a boas condições.

 

 

Cada nova rubrica de 1 Enfermeiro, 1 Delegado é publicada no primeiro domingo de cada mês.