27 Fevereiro, 2017
Condições das viaturas na ARS Algarve põe em causa a segurança de profissionais e utentes.

 

Pneus carecas com arames visíveis, volantes a desfazerem-se ou fechaduras que não abrem são apenas algumas das queixas dos profissionais de saúde que diariamente usam as viaturas da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve afectas aos três Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES).

No ACES Barlavento, mais propriamente no Centro de Saúde de Silves, que dispõe actualmente de três carrinhas, utilizadas diariamente para transporte de profissionais da Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) e da Equipa de Cuidados Continuados Integrados (UCCI), materiais para tratamento e lixo infectado decorrente dos tratamentos, o mais recente problema tinha uma “já longa história”.

Depois de “alguns anos” a trabalhar com os comandos das carrinhas avariados e “desde o Verão à espera de arranjo de duas viaturas com problemas nas fechaduras”, no mês passado profissionais de saúde ficaram ‘a pé’, aquando de um serviço domiciliário em São Bartolomeu de Messines, depois de cerca de 20 minutos a tentar rodar a chave numa fechadura que não voltou a abrir mais.

Entretanto, adianta a Direcção Regional de Faro do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), “com toda a burocracia associada a este processo as semanas foram passando e o período de garantia da fechadura passou”. Algo a que a ARS Algarve se demarca: “O tempo que demoro a aprovar os orçamentos [para as reparações], a partir do momento em que os recebo, é imediato, no próprio dia”, afirma João Moura Reis, presidente do conselho directivo.

Até porque, continua o responsável, apesar de os ACES terem de fazer três orçamentos e colocar à consideração da ARS, os agrupamentos “sabem que têm autorização para dar seguimento ao processo, desde que seja pelo orçamento mais em conta”, diz.

“Atrasos ou demoras que possam acontecer em relação a avarias nas viaturas não têm que ver com a ARS, uma vez que não temos a responsabilidade de gerir a frota automóvel”, acrescenta o responsável. O mesmo argumento é utilizado por João Moura Reis quando o SEP apela a um maior cuidado e vigilância na manutenção das carrinhas, “já com bastante quilometragem e sujeitas a um ambiente maioritariamente rural”.

 

Um problema estabilizado mas inconstante

O ACES Barlavento tem 23 viaturas, o Sotavento 11 e o Central 28, estando, actualmente, todas operacionais à excepção de duas – à espera de reparação – do último agrupamento. Apesar de a situação estar aparentemente estabilizada, as avarias são “uma constante”. “A situação está sempre a mudar de um dia para o outro ou de uma semana para a outra. A questão é o problema em si e esse mantém-se”, refere ao POSTAL Nuno Manjua, dirigente regional do SEP de Faro.

Na UCC do Centro de Saúde de Faro, por exemplo, o panorama é mais dramático, diz o sindicalista, uma vez que “há alturas em que apenas está uma viatura a funcionar quando, para ser em pleno, deveriam estar, pelo menos, quatro,- algo que nunca acontece – para cuidar cerca de 100 utentes ao domicílio, alguns dos quais com feridas que deveriam ser cuidadas diariamente” mas que só o são duas vezes por semana por falta de viaturas.

 

Segurança dos utentes em causa

“Bancos de condutor que não se movem, janelas que não se abrem, espelhos retrovisores que não se podem mover senão quebram, viaturas que para não irem abaixo os motores requerem violentas acelerações, travões de mão e limpa-vidros disfuncionais, manípulos de mudanças sem informação ou buzinas que não tocam” são algumas das preocupações com as quais os enfermeiros daquela unidade de Faro se têm deparado nos últimos tempos.

Segundo Nuno Manjua, “esta situação coloca em causa a segurança dos utentes a vários níveis, a segurança clínica, em termos de isolamento, a segurança dos familiares que não têm o apoio que deveriam ter para cuidar destas pessoas, a segurança dos profissionais que não se deslocam em condições, que estão sistematicamente a alterar o seu planeamento, que não vão a casa das pessoas o número de vezes que deviam e que têm dificuldade em seguir os seus planos clínicos”, refere.

 

Fonte: Postal, 24 fevereiro 2017 – 17:30