27 Março, 2020
Em ofício enviado hoje ao Presidente da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, expusemos as condições de trabalho que os enfermeiros enfrentam.

 

Temos vindo a ser contactados por vários enfermeiros com relatos de estarem a viver “uma situação caótica” por ausência de coordenação, liderança e deficiente planificação face às novas necessidades.

Todos sabemos que os momentos que vivemos não são fáceis, porém, no quadro da solução dos problemas, do qual sempre fizemos parte, é importante que as questões a seguir elencadas mereçam da vossa parte a melhor atenção e resposta.

Assim:

  • Falta de EPI,principalmente de máscaras de proteção, que são racionadas e disponíveis em quantidades inferiores às necessidades, levando os profissionais a improvisar medidas de preservação das mesmas, na tentativa de aumentar a sua durabilidade, para além do indicado pelas normas da DGS, pondo assim em causa a sua saúde e a dos doentes que cuidam.

Consideramos que os EPI’s e as máscaras não podem ficar aquém das necessidades. No momento que vivemos, o foco dos profissionais de saúde só deve incidir sobre a qualidade dos cuidados que prestam. Estes profissionais não devem ser portanto perturbados por falhas na segurança com que trabalham. Falhas desta natureza prejudicam gravemente o desempenho da sua missão: cuidar e salvar vidas.

  • Com a criação da unidade de atendimento ao COVID 19 na urgência (2ª fase do plano) foram-nos relatadas tentativas de Infecciologistas, alegadamente com o “apoio” da administração, no sentidode serem os enfermeiros do Serviço de Urgência a fazer as colheitas aos doentes programados (exames de follow-up). Estas colheitas não se enquadram nas práticas nem no espírito preconizado para um serviço de urgência e, apesar de ser um procedimento rápido, é acompanhado de um longo questionário, relativo ao trabalho médico e por isso da exclusiva responsabilidade dos Infecciologistas.

Até hoje essas colheitas eram asseguradas pelos enfermeiros da unidade de atendimento ao Covid-19 situado em lugar externo e esta parece ser, de facto, a melhor solução, e consideramos que assim deve continuar.

  • O local escolhido para a abertura do serviço de atendimento ao Covid não possui as condições de segurança exigidas. A área disponível é exígua, com poucos gabinetes, corredores e salas apertados não comportando mais do que 3 macas em simultâneo.
  • Neste atendimento está a funcionar um aparelho de RX (portátil), dentro de um gabinete não preparado para o efeito, portanto sem paredes impermeáveis à radiação, expondo todos os profissionais sempre que é efetuado RX. Tão pouco foi fornecido um marcador de exposição.

Consideramos ser muito importante e urgente disponibilizar alternativas que ofereçam condições de segurança aos profissionais.

  • Consequentemente, as frequentes saídas dos doentes para a realização de exames, nomeadamente RX, ECO e TAC, não respeitam as medidas de contenção sanitárias exigidas, obrigando à invasão de áreas consideradas limpas.

Consideramos muito importante e urgente a redefinição de circuitos, criando circuitos Covid e não Covid, de forma a conter a cadeia de contaminação.

  • Temos conhecimento de que, também o serviço de OBS, com 6 camas não reúne as medidas mínimas exigidas de contenção, coabitando, neste espaço, doentes a aguardar resultado Covid e outros de foro clínico distinto.
  • Chamamos igualmente a V/ atenção para a importância da criação de uma área de atendimento “Covid-19”, para colheita de espécimes para laboratório, junto do SU, mas exterior ao hospital.

Temos a certeza de que todos convergimos no objetivo de as instituições de saúde não serem fontes de contágio, tal como aconteceu em Itália. São os danos da pandemia no nosso país, designadamente na zona norte, refletidos no número crescente de enfermeiros positivos ao Covid-19, para além dos que estão de quarentena ou em isolamento profilático, que leva a Direção Regional SEP – Porto a exigir medidas rápidas para que os enfermeiros possam trabalhar em segurança, em sua defesa e na dos utentes do SNS.

Ofício enviado hoje 27 de março de 2020 ao Conselho de Administração da ULS Matosinhos