16 Abril, 2020
Covid-19: Setúbal – enfermeiros impedidos de prestar cuidados aos filhos
Enquanto a população agradece, o Centro Hospitalar de Setúbal acrescenta dificuldades às famílias dos enfermeiros.

Sabemos que o momento difícil que atravessamos afeta todos e todas sem exceção. Cada um de nós deve procurar fazer a sua parte, dando o melhor contributo para a saúde de toda a população.

Contudo, há quem esteja mais exposto às consequências devastadoras que esta pandemia acarreta. É o caso dos profissionais de saúde, e em particular, dos enfermeiros (entre outros profissionais que saudamos).

Garantir que temos trabalhadores motivados “nas trincheiras” significa também assegurar que os seus filhos estão seguros, que recebem cuidados adequados, que têm a mesma proteção e acompanhamento, em situação de igualdade com as demais crianças em território nacional.

 

No Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) esta simples questão parece ser de difícil compreensão

Chegaram-nos vários relatos de enfermeiros, famílias monoparentais, casais de enfermeiros e de profissionais das designadas profissões essenciais, denunciando que lhes foi negado o direito a assegurar os cuidados aos seus filhos menores de 12 anos sob pena de terem faltas injustificadas.

Estes casos verificaram-se na ausência de resposta por parte das escolas designadas para esse efeito por parte do governo.

Consideramos esta atitude por parte deste Centro Hospitalar ilegal e imoral. Num momento em que tanto é pedido e imposto aos enfermeiros, no CHS querem sonegar direitos, atentando contra os direitos das famílias destes profissionais!

É incompreensível.

Merecem igualmente ser denunciadas as situações em que um dos pais tem de ficar em isolamento profiláctico sem que seja permitido, por este Centro Hospitalar, que o outro membro do casal possa cuidar dos filhos e assistir ao cônjuge em isolamento. Esta atitude revela total insensibilidade por parte desta administração perante o que os enfermeiros solicitam e alegam em termos de contexto familiar.

Para além das ações concretas já desencadeadas junto do Conselho de Administração deste Centro Hospitalar e do apoio jurídico, consideramos que a gravidade do que se está a passar merece ser do conhecimento geral da população.

É importante que todos tenham consciência que estes enfermeiros estão de corpo e alma a combater esta pandemia mas os seus filhos não podem ser arrastados para esta batalha nem discriminados em relação a outras crianças.

Estando já muitas destas crianças em situação de privação de contacto com um dos pais, esta atitude da administração leva a que este impedimento de contacto se estenda a ambos os pais – colocando em causa a saúde e o bem-estar familiar. Promove ainda a desmotivação e a revolta dos enfermeiros, pela forma discriminatória no tratamento e numa altura em que também eles necessitam de sentir que os seus estão em segurança.

Quem cuida destas crianças? Quem assegura que têm o necessário acompanhamento escolar? Quem assegura que estão tão protegidas quanto as outras de contágio?

É urgente cuidar de quem cuida!

É urgente que o Governo e as administrações por este nomeadas oiçam os profissionais e implementem medidas também que respondam às suas necessidades.

 

 

Nota enviada aos media a 16 de abril 2020