7 Abril, 2020
Em artigo de opinião os representantes da Cidadania na Enfermagem Augusta Sousa, João Fernandes, Pedro Aguiar, assinalam  do Dia Mundial da saúde.

 

Que, do contributo dos enfermeiros portugueses para enfrentar o desafio da pandemia covid-19, o poder político ajuste as medidas que se impõem para garantir a melhoria das condições para o exercício profissional.

Assinalar o Dia Mundial da Saúde, em torno do que foi a decisão da OMS é, no quadro em que hoje vivemos, reafirmar os enfermeiros no mundo e no nosso país são um pilar essencial na resposta aos desafios que a pandemia coloca, em simultâneo com as respostas que importa garantir às necessidades em cuidados de saúde aos cidadãos.

Vivemos um momento de mobilização global. Devemos reconhecer o facto de o país ter como pilar essencial um Serviço Nacional de Saúde, onde a ninguém são recusados cuidados de saúde, demonstrando que, mesmo com dificuldades decorrentes de anos de desinvestimentos, sem este instrumento público a resposta, que uma pandemia exige seguramente seria bastante mais frágil. É também neste quadro que vivemos que se confirma que, quando esgotados os recursos disponíveis do SNS, a disponibilização do setor social e privado, devidamente coordenado, evidencia a complementaridade que a Lei de Bases da Saúde consagra.

As respostas em saúde exigem um efetivo trabalho em equipa onde todos e cada um são essenciais, e com as suas competências garantam o melhor que se pode oferecer a quem se confia aos seus cuidados. Ninguém é dispensável – enfermeiros, médicos, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, assistentes técnicos, assistentes operacionais, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, administradores hospitalares e outros.

Contudo, e no quadro do Dia Mundial da Saúde, é importante relevar que os enfermeiros, sendo o maior grupo profissional e decorrente da natureza da sua profissão, são aqueles que durante 24 horas asseguram a continuidade e a segurança dos cuidados nos hospitais, nos cuidados continuados, nos cuidados de saúde primários e em muitos residências e lares.

Também, nos cuidados de proximidade, os enfermeiros são um pilar estruturante para garantir a disponibilidade, a continuidade e a segurança dos cuidados. São sobretudo os enfermeiros que percorrem bairros e aldeias, vales e montes para dar o suporte necessário a quem em suas casas necessita de cuidados. São também os enfermeiros que garantem nos Centros de Saúde as intervenções de vigilância, prevenção e promoção, entre outras a concretização do Plano Nacional de Vacinação.

É nos diferentes contextos, identificando as necessidades e as respostas possíveis, que se evidencia a capacidade de adaptação dos milhares de enfermeiros em todo o país, mobilizando-se na reorganização dos serviços e na gestão dos recursos disponíveis, alterando e prolongando os seus horários de trabalho, alterando a sua vida familiar e social para que para cada cidadão, de acordo com prioridades, possa ter a resposta adequada.

Sabemos que os enfermeiros estão sujeitos à tensão diária, que é marca dos tempos, que a covid-19 impõe mas que não se deixam tolher pelo medo e por isso conseguem minimizar as dificuldades que a carência de profissionais torna mais evidente face à realidade que vivemos. É no ultrapassar das dificuldades que aos enfermeiros gestores é colocado um desafio particular na gestão dos recursos disponíveis, humanos e materiais, de forma a que aqueles que garantem a prestação de cuidados sintam no seu quotidiano o apoio necessário capaz de motivar e garantir a necessária coesão das equipas.

Sabemos que esta gestão implica mobilização de uns serviços para outros, horários prolongados que permitam uma gestão de equipas em espelho de forma a prevenir estados de exaustão que por si só são fator de risco acrescido na oferta dos cuidados de enfermagem mas também para minimizar riscos de contágio e incrementar o tempo de isolamento social.

Todos somos convocados para o apoio mútuo onde cada um e cada uma, ombro a ombro, contribuem para a resistência à pressão que continuamente sofrem, em entreajuda ao colega com quem partilha essa mesma pressão.

Esta realidade, que hoje atravessa o mundo, atribui um sentido maior à declaração da OMS para o ano 2020 e para o Dia Mundial de Saúde de apoio aos enfermeiros. Na sua página oficial podemos ler:

Year of the Nurse and the Midwife 2020

Nurses and midwives play a vital role in providing health services. These are the people who devote their lives to caring for mothers and children; giving lifesaving immunizations and health advice; looking after older people and generally meeting everyday essential health needs. They are often, the first and only point of care in their communities. The world needs 9 million more nurses and midwives if it is to achieve universal health coverage by 2030.

That’s why the World Health Assembly has designated 2020 the International Year of the Nurse and the Midwife.

Join WHO and partners including, the International Confederation of Midwives (ICM), International Council of Nurses (ICN), Nursing Now and the United Nations Population Fund (UNFPA) in a year-long effort to celebrate the work of nurses and midwives, highlight the challenging conditions they often face, and advocate for increased investments in the nursing and midwifery workforce.

Este destaque e apelo das Organizações Internacionais é o reconhecimento inequívoco do percurso histórico que estes profissionais fizeram a partir do final do século XIX com o impulso que Florence Nightingale imprimiu à saúde em geral com diversos e importantes contributos, entre os quais a demonstração “simples” de que as medidas de higiene e o lavar das mãos salvam vidas.

Continuemos o seu legado e que, do contributo dos enfermeiros portugueses para enfrentar o desafio da pandemia covid-19 e suportado nas orientações da OMS, o poder político ajuste as medidas que se impõem para garantir a melhoria das condições para o exercício profissional: maior reconhecimento e valorização do seu trabalho, melhoria das condições para o exercício da profissão, reconhecimento do risco acrescido decorrente do exercício, reconhecimento do papel dos que têm a função de gestão, um maior número de enfermeiros com o necessário equilíbrio na sua distribuição por áreas de intervenção e geográfica, a valorização das competências dos enfermeiros especialistas.

Todos estamos a aprender com o embate da crise que vivemos. Podemos sair dela mais fortes apesar das vulnerabilidades, mais resilientes apesar das perdas, porque percebemos melhor o que tem de ser feito e também os cidadãos terão compreendido e sentido como é importante o reforço do SNS.

Os enfermeiros e as enfermeiras em todo o mundo e no nosso país são parte integrante desta força. Por isso dizem PRESENTE.

Em representação da Cidadania na Enfermagem

Augusta Sousa | João Fernandes | Pedro Aguiar